domingo, 9 de setembro de 2007

Uma fórmula simples [texto meu]

UMA FÓRMULA SIMPLES
Márcia Danyelle

"Conservar algo que possa recordar-te seria
admitir que pudesse esquecer-te"
Shakespeare
"E se de repente todos que eu começasse
a perder possuissem um nome"
Clive Owen



É uma "gostosa ciranda", onde, de certo modo, somos amados, mesmo que não correspondidos... Preenchidos, mesmo que não seja por quem devotamos.
Eu não lhe amo e você não me ama, eu o amo e você a ama. Finjo me importar quando você se ilumina ao vê-la e você finge se importar quando ele me liga. É uma formula simples, somos escravos da nossa devoção.
Estamos juntos, no desespero e na solidão, estamos juntos compartilhando momentos, vivendo algo que não nos foi destinados. Não é divertido, mas é o que podemos ter, migalhas de sentimentos, companheirismo na tristeza.
Sou tua bengala, tu és meu chapéu...
Sou tua amante, tua companheira, mas minha alma não é tua.
Finjo no extase te desejar e tu finges pensar em mim.
Somos atores, sobreviventes na solidão... Somos o que temos, "o que podemos ser"...
Não ouso me perguntar se deveria te amar e lutar pelo teu amor, seria mais fácil se nos amassemos. Se não buscássemos em nossos olhos o olhar de outro.Seria me contentar, lutar por algo mais, ser amada? E quem sabe te amar?
Mas não é isso que queremos, não é?
Embora tua presença seja mais constante que a dele, que ao teu lado eu seja mais inteira que com ele, sinto que te amar seria buscar o óbvio, amar quem está ao nosso lado, esquecer as fantasias. Aceitar que sonhos são como drogas, cultivá-los deveria ser ilegal, abandoná-los é dolorido e seu prazer breve.
Quem foi que me disse que mesmo um amor que não é seu é melhor do que nenhum?
Não, prefiro minhas ilusões, assim como prefere as tuas.
Prefiro não cultivar nomes, afeições ou sonhos, nossa fórmula é perfeita como é. Sem exageros, sem amor, sem ilusões...
Aceito o fato de não te amar e não ser amada, como uma fórmula simples, aceito me virar após o coito e esperar que você se vá, aceito teus olhares a mim não destinados, aceito realizar seus sonhos com outra e sei que assinaria esse contrato com toda fé que tenho como uma fórmula simples, onde não nos amando somos felizes...
O problema é se um dia nossos focos se cruzarem...
Ninguém pode construir em teu lugar
as pontes que precisarás passar,
para atravessar o rio da vida


Ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números,
e pontes, e semideuses que se oferecerão
para levar-te além do rio;
mas isso te custaria a tua própria pessoa;
tu te hipotecarias e te perderias.

Existe no mundo um único caminho
por onde só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o
- Nietzsche -



quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Sumi


“Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo
quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando
melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro
antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de
lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência.”

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O amor não acaba, nós é que mudamos [Martha Medeiros]


Um homem e uma mulher vivem uma intensa relação de amor, e depois de alguns anos se separam, cada um vai em busca do próprio caminho, saem do raio de visão um do outro. Que fim levou aquele sentimento? O amor realmente acaba?

O que acaba são algumas de nossas expectativas e desejos, que são subtituídos por outros no decorrer da vida. As pessoas não mudam na sua essência, mas mudam muito de sonhos, mudam de pontos de vista e de necessidades, principalmente de necessidades. O amor costuma ser amoldado à nossa carência de envolvimento afetivo, porém essa carência não é estática, ela se modifica à medida que vamos tendo novas experiências, à medida que vamos aprendendo com as dores, com os remorsos e com nossos erros todos. O amor se mantém o mesmo apenas para aqueles que se mantém os mesmos.

Se nada muda dentro de você, o amor que você sente, ou que você sofre, também não muda. Amores eternos só existem para dois grupos de pessoas. O primeiro é formado por aqueles que se recusam a experimentar a vida, para aqueles que não querem investigar mais nada sobre si mesmo, estão contentes com o que estabeleceram como verdade numa determinada época e seguem com esta verdade até os 120 anos. O outro grupo é o dos sortudos: aqueles que amam alguém, e mesmo tendo evoluído com o tempo, descobrem que o parceiro também evoluiu, e essa evolução se deu com a mesma intensidade e seguiu na mesma direção. Sendo assim, conseguem renovar o amor, pois a renovação particular de cada um foi tão parecida que não gerou conflito.

O amor não acaba. O amor apenas sai do centro das nossas atenções. O tempo desenvolve nossas defesas, nos oferece outras possibilidades e a gente avança porque é da natureza humana avançar. Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa.

domingo, 2 de setembro de 2007


O Medo de Amar é o Medo de Ser Livre

O medo de amar é o medo de ser
Livre para o que der e vier
Livre para sempre estar onde o justo estiver
O medo de amar é o medo de ter
De a todo momento escolher
Com acerto e precisão a melhor direcção
O sol levantou mais cedo e quis
Em nossa casa fechada entrar
Prá ficar
O medo de amar é não arriscar
Esperando que façam por nós
O que é nosso dever: recusar o poder
O sol levantou mais cedo e cegou
O medo nos olhos de quem foi ver
Tanta luz

METADE [Oswaldo Montenegro]

Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.

E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.

O que esperar do amor... [Clotilde Tavares]

Em primeiro lugar, estou criando esse blog (meu segundo blog) para postar textos, crônicas e poesias. Tenho uma amiga que diz que tenho vários textos maravilhosos guardados aqui e nunca repasso, ou posto no blog, então, decidi abrir esse espaço.
Além de colocar dicas de filmes essas coisas...
Acho que esse será meu espaço cultura, hehehehe
O outro seria meu pessoal, esse é mais público, tanto que está com comentários, a proposta é simples, e quero mantê-la. Por favor, saibam usar, beijos.


O que esperar do amor...
Clotilde Tavares


Somos, pela maneira de perceber o mundo, seres incompletos. Vivemos buscando desesperadamente a nossa "metade". Às vezes pensamos ter encontrado e o nosso primeiro desejo é ficar junto até que a morte separe.
No início da relação com a nossa "outra metade", ali do lado, nos sentimos completos e felizes. Mas muitas vezes, ele resolve ir embora e lá estamos nós partidos, fragmentados.
Depois de alguns episódios de fracassos ficamos com a impressão de que algo está errado.
Começamos, então, a procurar um relacionamento que não nos deixe tão perdidos ao acabar, porque descobrimos, já não tão surpresos, que sim... Os relacionamentos acabam!
É quando percebemos como é difícil conseguir uma relação rica e criativa, inteira, sem dependência.
Aí vem a pergunta: o que os homens procuram nas mulheres e as mulheres procuram nos homens?
Quantas pessoas não se queixam que o casamento não deu certo, que o namoro não deu certo. Contam que, apesar de terem se dedicado tanto ao outro, de terem amado, cuidado e convivido, de repente a outra pessoa simplesmente deixou de amar.
E se queixam dizendo: "Ah, eu investi tanto nessa relação!" É isso que fazemos.
Investimos nas relações. Investimos como se fosse um negócio.
Agimos como quando colocamos o dinheiro na poupança e esperamos que os juros aumentem para que o investimento cresça!
Damos amor, fidelidade, sexo, companheirismo, cumplicidade e, quando o retorno não vem é o caos! O investimento não teve retorno! Ora, nos negócios existe o risco. Pode dar certo ou não. E quando não dá não adianta culpar o mercado ou o corretor.
Trata-se apenas de juntar o que sobrou e reinvestir novamente em outras condições ou sair à francesa, retirar-se do mercado por um tempo, para evitar maiores prejuízos!
O amor, entretanto, não é um mercado. Amamos para amar ou para ser amados? Para as duas coisas, você diria... Mas, na verdade, a gente só pode se responsabilizar pelo nosso sentimento, nunca pelo do outro. Mas já que amamos e estamos sempre procurando um jeito de misturar a nossa vida com a de alguém, o que se diz nesse momento é: siga em frente e seja feliz.
Nunca um adeus dolorido vai ser pior do que um ficar por ficar!